Em janeiro, a Código Não Binário publicará “Anatomia de uma Onda de Ódio” — um relatório sobre direitos humanos e integridade informacional que reconstrói, com método e evidências, uma campanha de hostilização coordenada que atravessou plataformas e transbordou para o mundo físico. O estudo parte de um caso concreto: os ataques ao nosso podcast Entre Amigues, apresentado por Veronyka e Amanda, após a viralização de um corte com Jupi77er.
Este post é um teaser: um aviso curto do que vem aí — e por que ele importa.
O que o relatório mostra
A história começa como tantas outras: um conteúdo LGBTQIA+ circula, ganha escala, e rapidamente vira “alvo”. No caso do Entre Amigues, o estopim ocorre em torno de um corte que viraliza e é replicado por um deputado federal, em formato de “react silencioso”, acionando uma dinâmica bem conhecida: alguém com grande alcance “não precisa dizer” — terceiriza para a audiência fazer o trabalho sujo nos comentários.
O resultado é previsível e brutal: milhares de comentários com agressões, zombaria e incitações; conteúdos derivados em remix/dueto/repost; e uma sensação prática de desamparo quando se tenta usar as ferramentas oficiais das próprias plataformas para pedir remoção, moderação ou proteção.
O relatório organiza essa sequência em linha do tempo, descreve táticas (inclusive as “sutis”), identifica perfis amplificadores e consolida um acervo de evidências com governança de dados — porque, sem isso, o debate fica no “acho que”, e as plataformas seguem operando no “não vi”.
O desenho da plataforma vira máquina de transferir ônus
Uma parte do relatório compara, na prática, o que acontece quando você denuncia discurso de ódio versus quando denuncia direito autoral.
E aqui a coisa fica bem didática (e bem feia): as plataformas tendem a ser rápidas, previsíveis e processuais quando o assunto é copyright. Mas, quando é violência contra pessoas comunicadoras LGBTQIA+, o caminho costuma ser opaco, fragmentado, automatizado e frustrante.
Não é “falha pontual”: é um modo de operação. E o efeito político é cristalino: o custo (tempo, saúde mental, risco, trabalho jurídico, coleta de prova) cai sobre a vítima — enquanto a circulação segue.
Plataformas formam ecologia de violência
Outra parte importante do relatório descreve uma cadeia interplataformas como por exemplo:
- TikTok aparece como gatilho de viralização: velocidade e explosão.
- YouTube como repositório de persistência: o ódio se acumula, fica “arquivado” e continua rendendo engajamento.
- Instagram como superfície de reencenação: remixagens, comentários de chacota e reaproveitamentos que reativam a onda.
Ou seja: é um ecossistema que se retroalimenta.
Como investigamos e por que isso importa para quem também será atacada
O relatório combina:
- documentação cronológica do caso;
- coleta e certificação de evidências digitais (com foco em cadeia de custódia);
- análise da jornada de denúncia nas plataformas;
- e uma etapa de análise de comentários em escala, com apoio de IA, para medir padrão, volume e persistência.
É sobre criar evidência acionável para incidência — jurídica, política e regulatória. E também sobre produzir método replicável, porque a pergunta real é coletiva: o que fazer quando isso acontece de novo (porque acontece)?
Para quem é este relatório
Para equipes de confiança e segurança de plataformas (que vivem pedindo “contexto”), para Ministério Público e poder público, para legisladores, para pesquisadoras, jornalistas, organizações e coletivos — e, principalmente, para pessoas comunicadoras em direitos humanos e pessoas LGBTQIA+ que precisam de instrumentos concretos para reduzir dano e exigir resposta.
Como acessar
O relatório será publicado aqui no site da Código Não Binário em janeiro, em acesso aberto, com licença que permite circulação e reutilização (com atribuição). Quando entrar no ar, este post será atualizado com o link direto para download.
Até lá: se você trabalha com direitos humanos, políticas públicas, pesquisa, jornalismo ou segurança de comunidades, vale acompanhar. O relatório não é sobre “polêmica”. É sobre governança, arquitetura de plataforma, responsabilização — e sobre o que acontece quando a moderação falha e a violência vira métrica.
Veja mais sobre esse projeto
O trabalho de documentação e análise realizado para o relatório “Anatomia de uma Onda de Ódio” resultou no desenvolvimento de múltiplos produtos e ferramentas do ecossistema TybyrIA, desenvolvido pela Código Não Binário:
- Ação Civil Pública contra Big Tech — Ação jurídica fundamentada neste relatório, utilizando a TybyrIA como evidência
- Radar Social LGBTQIA+ — Um dos produtos da TybyrIA, o primeiro modelo de IA especialista em ódio anti-LGBTQIA+ em português, desenvolvido a partir da análise deste relatório
- Primeiro dataset dedicado em português sobre ódio anti-LGBTQIA+ — Base de dados aberta desenvolvida pela Código Não Binário, construída a partir dos dados coletados para este relatório
- Radar Legislativo LGBTQIA+ — Ferramenta de monitoramento legislativo que aplica a TybyrIA, desenvolvida pela Código Não Binário
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