Na Casa Queer Flip 2023, Amanda Claro e Veronyka Gimenes compartilharam reflexões que colocam em xeque os modos como a tecnologia é pensada, produzida e utilizada sob a lógica cisheteropatriarcal e colonial. Partindo de referências como Aníbal Quijano, Maria Lugones, Donna Haraway e Paul B. Preciado, suas falas propuseram uma crítica profunda à colonialidade do poder e ao binarismo de gênero como fundamentos estruturantes das sociedades modernas — e, por consequência, das tecnologias. A presença de corpos queer e trans nos espaços técnicos e digitais não apenas tensiona essas estruturas, mas também evidencia a urgência de construirmos outras epistemologias para pensar o mundo.
A masculinidade hegemônica, representada pelo mito do “self-made man”, foi desconstruída por Amanda como um ideal de gênero atrelado à racionalidade, à autossuficiência e à exclusão dos afetos — um modelo que domina as engrenagens do mercado de trabalho e do desenvolvimento tecnológico. Ao revelar a origem colonial e patriarcal desse modelo, Amanda destacou como a figura masculina branca, cis e heterossexual é posicionada como padrão universal, em oposição à subalternização de outras formas de existir. A pergunta central que se impõe é: qual o lugar reservado aos corpos dissidentes, racializados, femininos e trans na produção de tecnologia?
Já Veronyka apresentou um percurso crítico que atravessa o Manifesto Ciborgue, o pós-transfeminismo e a tecnodiversidade, trazendo à tona a possibilidade de reimaginar o corpo como fluxo, conexão e resistência. Em vez de aceitar as promessas neoliberais do solucionismo tecnológico, que reduz problemas sociais complexos a algoritmos e plataformas, Veronyka propõe a invenção de cosmotécnicas: tecnologias situadas, locais e plurais, que reconheçam os saberes dos povos e corpos historicamente marginalizados. Essa visão aponta para uma ruptura com o modelo extrativista da Big Tech e convoca a criação de tecnologias simbióticas, sustentáveis e emancipadoras.
O Código Não Binário se afirma, assim, como um espaço de produção crítica e insurgente de tecnologia, onde corpos queer não apenas existem, mas ocupam, criam e transformam. As apresentações na Casa Queer Flip 2023 reafirmaram o compromisso do coletivo com uma perspectiva radicalmente interseccional e decolonial, onde o fazer tecnológico está inseparavelmente ligado à justiça social. Não queremos apenas ocupar o mundo digital: queremos reinventá-lo com nossos códigos, nossos corpos e nossas potências.







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